domingo, 12 de fevereiro de 2012

O futebol canarinho perde cada vez mais terreno


O paradoxo está no ar. À medida que enriquece, graças em grande parte a estabilidade econômica brasileira e a recessão na Europa, o futebol vai perdendo “terreno” no Brasil. Entre os motivos mais batidos para este declínio dentro e fora de campo cito alguns: a falta de craques nos gramados e a conseqüente “morte” do camisa 10; ingressos caros; a violência dentro e fora dos estádios, proporcionados pelas famigeradas torcidas (verdadeiras gangues) organizadas; a transmissão de jogos pela TV; novas formas de lazer; entre outros.

A falta de interesse na Seleção Brasileira de Futebol, cada vez mais mercenária e distante do torcedor (e pensar que a próxima Copa do Mundo será no Brasil...) é apenas um sinal de que algo precisa ser feito antes que seja tarde demais. O alto grau de interesse do brasileiro, por exemplo, pela “briga de galo humana” (respeito quem goste), conhecida pela combinação de letrinhas - MMA ou UFC -, e até pelo futebol americano (vide o sucesso do Superbowl 46 nas redes sociais), são outros exemplos do fim do reinado absoluto do “soccer” no país.

O depoimento de um torcedor, publicado no Blog do jornalista esportivo e cronista do jornal O Globo, Renato Maurício Prado, simboliza a decadência do futebol canarinho. Segundo Prado, o torcedor em questão deixou de ir ao campo de futebol no Rio de Janeiro pelos motivos supracitados. Em vez de ir ao Engenhão assistir ao clássico Flamengo x Botafogo, o torcedor reuniu a mulher e a filha para assistirem ao jogo, juntos, num restaurante na Barra da Tijuca, distante 200 metros de casa. Comeram e beberam à vontade, assistindo tudo pela TV, com direito a replay dos principais lances, entrevista ao vivo dos jogadores, comentários, etc.

No final, a conta lhe custou tão somente R$ 53. Se fosse ao estádio com sua família, o torcedor “símbolo” gastaria R$ 100 só com os ingressos. E para quê? Assistir à um jogo fraco tecnicamente, “insosso”, na definição do próprio torcedor, correr o risco de ser mais uma vítima da violência propagada pelos vândalos das torcidas organizadas, gastar com combustível (com o risco de ter o carro roubado). E ainda: ter que lidar com a falta de educação do torcedor e com o despreparo da Polícia Militar. Enfim, um martírio!

Voltando a questão financeira, com o advento da TV por Assinatura e do sistema Pay-Per-View (PPV), onde o sujeito paga cerca de R$ 80 para assistir todos os jogos dos Campeonatos Brasileiros das Séries A e B e ainda um Estadual, ficou sem sentido ir ao estádio de futebol – e quem não tem condições de pagar por uma TV por Assinatura, pode assistir ao jogo no barzinho da esquina, que popularizou as transmissões do futebol. O reflexo disso? O declínio, claro, no público e renda nos estádios, principalmente, nos Campeonatos Estaduais.

E como se não bastasse, ainda proibiram o consumo da tradicional cerveja dentro do estádio. A “gelada” nunca foi o motivo de brigas entre torcidas. Aliás, para quem não sabe ou se faz de doido, no Brasil já é (ou era) uma questão cultural: ir ao estádio assistir ao futebol, tomando uma cerveja gelada (em copo plástico). A violência surgiu na mesma proporção da importância que foi dada as torcidas organizadas. A maioria dos integrantes destas facções (quase criminosas) consome drogas ilícitas (até dentro do estádio) e não sofre qualquer punição. Mas, isso é assunto para outro texto (bem mais extenso, complexo e polêmico).

O torcedor só faz questão de ir ao estádio quando o seu time do coração disputa uma decisão ou um jogo muito importante. A paixão, nestas horas, fala mais alto e muitos encaram o desafio que virou ir à campo hoje em dia. A moda, agora, é reunir familiares e amigos em casa para curtir àquele churrasquinho e assistir ao jogo pela TV, sem correr o risco de ser mais uma vítima da violência propagada pelas torcidas organizadas ou da truculência policial. Ah! E gastando bem menos. E pensar que estamos a dois anos de uma Copa Mundo no país. O que será destes estádios que estão sendo construídos especialmente para o Mundial?

Texto de George Fernandes

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