domingo, 30 de outubro de 2011

Aldo Rebelo reforça a independência na relação com a Fifa

Aldo Rebelo não é nenhum novato no esporte. Deputado federal do PC do B pelo sexto mandato, já teve algumas atuações famosas ligadas à área. Participou, por exemplo, da comissão que discutiu a Lei Pelé e, entre 2000 e 2001, foi presidente da CPI que investigou na Câmara as ligações entre a CBF e a Nike. Isso sem falar na paixão pelo futebol: ele é palmeirense roxo, do tipo que lembra glórias antigas do time e lista heróis do clube alviverde.

Mesmo assim, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Rebelo não pareceu o mais entusiasmado ao ser escalado pela presidente Dilma Rousseff para substituir Orlando Silva no comando do Ministério do Esporte a partir desta sexta-feira - a posse oficial só ocorre na próxima segunda. Talvez porque ele vá entrar em uma espécie de jogo do título, mas no começo do segundo tempo, em uma disputa acirrada e cheia de caneladas.

O político assume um ministério que cresce em importância pela coordenação dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, mas que passou os últimos tempos envolto em críticas e denúncias de desvios de recursos e em conflitos recorrentes com a Fifa sobre as exigências para o Mundial que se aproxima. O cansaço decorrente da rotina pesada dos últimos dias já é visível, mas ele se apega ao discurso.

- Eu creio que o ânimo em uma situação dessas é uma necessidade. Eu estou disposto a enfrentar esse desafio com a mesma disposição com que enfrentei outros em situações diferentes - disse.

O ministro revelou que vai buscar a ajuda e a orientação de Orlando Silva - cujas acusações contra seu nome sequer foram provadas e optou por sair, sob pressão, para se defender e evitar tumultos no ambiente - para entender melhor o funcionamento do setor, mas já avisou que vai mexer no time. Evitando "condenações", ele diz acreditar no colega, a quem vai recorrer para entender o mínimo sobre a confusão em que está entrando.

- O ministro Orlando domina todas essas disciplinas e eu tenho, nesse fim de semana, que procurar o apoio e a ajuda do ministro para que eu possa retomar a atividade do ministério com as informações, com os conceitos e com o mínimo dessa estrutura pelo menos sob o meu domínio - argumentou o novo titular da pasta do Esporte.

"Onde o governo julgar que não deverá fazer concessões, não serão feitas"

Rebelo diz ter recebido apenas uma recomendação da presidente Dilma ao ser convidado: que valorizasse o Brasil como sede da Copa e das Olimpíadas. Ele não confirma, mas a presidente tem falado diversas vezes que o país precisa resistir mais às exigências feitas pela Fifa para o Mundial. O ministro não fala em endurecer o discurso, mas enfatiza a "cooperação com independência" e garante que o governo pode barrar o que achar "desnecessário".

- Onde o governo brasileiro julgar que não deverá fazer concessões, não serão feitas concessões. E onde o governo brasileiro julgar que as concessões são necessárias ou razoáveis - que há isonomia em relação a outros eventos internacionais - essas concessões serão feitas. Acho que, a partir desse princípio, adotaremos posições equilibradas e firmes.

Isso pode significar problemas na discussão de questões centrais das negociações, como a meia-entrada na venda dos ingressos para 2014. Neste aspecto, o projeto da Lei Geral da Copa, que é analisado por uma comissão especial da Câmara, não tem agradado a nenhum dos lados e se estenderá, ao menos, até a virada do ano. A Fifa aceita o desconto para idosos, mas resiste à meia-entrada estudantil, além de importantes aspectos ligados a combate à pirataria e direitos comerciais, por exemplo. Já os parlamentares têm reforçado a relevância no caso dos estudantes. O governo alinhou o discurso na defesa da manutenção dos chamados "direitos sociais", mas empurra a bola para o Congresso.

Ex-presidente da UNE e com história no movimento estudantil, a exemplo de Orlando Silva, Rebelo fica no meio do caminho. Pessoalmente, defendeu o direito à meia-entrada para os estudantes, mas já avisou que não vai se opor à decisão do governo.

- Quando você exerce a função pública ou mesmo quando você representa politicamente e negocia posições às vezes legítimas, mas contraditórias, você tem que assumir a posição do governo. E eu, como ministro, tenho que encaminhar as posições do governo.

Outro aspecto pessoal que ele espera ficar de fora é o histórico com Ricardo Teixeira. O dirigente da CBF foi o principal investigado pela CPI comandada por Aldo. Dez anos depois, é parceiro chave do governo na realização da Copa, ao coordenar o Comitê Organizador Local (COL) do Mundial.

- A CPI que eu presidi não se constituiu em instrumento de perseguição pessoal a ninguém, foi um instrumento de investigação da Câmara. Mas não guardo ressentimento em relação às pessoas, aos dirigentes e espero que isso também aconteça da parte dos que foram investigados - assegurou.

Rebelo já confirmou que não vai assinar convênios com ONG´s, ação que fez derrapar seu antecessor, por conta de irregularidades. Esse teria sido um pedido direto da presidente Dilma Rousseff. Ainda não se sabe, porém, se ele ficará no comando da pasta até o fim do mandato. Da última vez em que chefiou um dos ministérios, no segundo goveno Lula, o fez por somente um ano.

Melhor que Real Madrid e Barcelona

Se os assuntos do ministério deixam Aldo mais receoso - ele diz que, nessa etapa, cada entrevista é um risco - o Palmeiras alegra o comunista. Aldo é inclusive autor de um livro sobre um jogo entre o clube e o arqui-rival Corinthians. Mas, mesmo com toda a paixão, ele admite que a situação do alviverde não é boa.

- Para nós, palmeirenses, só existem dois tipos de resultados: vitória do Palmeiras ou um resultado anormal. O problema é que, recentemente, o resultado anormal tem se repetido muito.

- A minha avaliação sobre a campanha do Palmeiras não obedece a nenhuma racionalidade. Eu não sei se matematicamente nós ainda podemos ser campeões. Se pudesse, eu ia dizer que esse é o nosso desafio. Se não puder matematicamente, pelo menos a Libertadores.

E se a situação atual não é boa, o palmeirense disfarçado de ministro quase faz poesia com o passado do clube.

- Temos tradição, temos história, temos biografia. Um time não vive apenas de resultados. Um clube vive das suas glórias, da sua história, das páginas heroicas que escreveu, dos gramados de todo o mundo. E o Palmeiras é pleno desses episódios.

Empolgado, até se arrisca ao comparar o clube de Perdizes a grandes times europeus - recorrendo à história do time, é claro.

- Não tem nada parecido com o Palmeiras. Se olhar o Real Madri, perdeu todas com o Palmeiras na Espanha. Barcelona perdeu todas com o Palmeiras. (Palmeiras é melhor que Real Madri e Barcelona?) Estatisticamente, sim. Quando jogaram conosco em Madri ou em Barcelona, apanharam. Palmeiras ganhou daquele time que tinha Cruyff, Neeskens, Rensenbrink... - defendeu.

* Fonte: globoesporte.com

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